Perguntas que eu recebo: comportamentos de presunção de direito

PERGUNTA: Olá Marilia, gostaria de primeiramente lhe parabenizar pois acho vc uma das melhores atletas brasileiras do Powerlifting feminino, vc tem um conhecimento bem amplo por tanto gostaria que me respondesse uma simples questão. . Que é.. qual o gasto calórico em media de um treino de levantamento básico, seja ele Deadlift, squat ou bench press… sei que isso varia muito de pessoa pra pessoa e volume de treino Mas levamos em consideração uma média aí de 17 séries por treino acerca de 70-90% da força máxima em cerca de 7-4 repetições por série.. Obrigado pela atenção.

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MINHA RESPOSTA – Me espanta sua pergunta. Em primeiro lugar, não é uma pergunta: é uma ideia para um experimento. Em segundo lugar, posso adiantar que não há metodologia adequada para executá-lo. Em terceiro lugar, qualquer resultado que o experimento hipotético tivesse teria um desvio padrão tão gigantesco que tornaria o próprio experimento inútil, caro, custos em tempo e esforço humano.

Se alguma estimativa superficial, e portanto imprecisa puder ser feita, será a partir de dados que podem ser “caçados” pela internet. Por que perguntar para mim? Uma vez que você naturalmente sabe que eu teria que buscá-los e fazer a conta para você? Essa é uma coisa que me intriga: muita gente manda perguntas para mim e outros profissionais que podem ser respondidas por elas mesmas com a mesma facilidade, mas que custam tempo. Por que será que vocês assumem que o nosso tempo vale menos do que o de outras pessoas?

Comentários:

* O primeiro é uma tentativa de estimativa para o LPO. Prova meu argumento. Os dois outros são pesquisas. Idem:

How to Calculate the Energy Expenditure of Weightlifters


http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24402448
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20300020

* Considero esse um processo de objetificação (“coisificação”): você não é mais uma pessoa. Você (eu) se torna uma coisa. Aperte o botão certo e você terá a resposta (gratuita!)

* Há um sentido de “presunção de direito” (entitlement): “Eu quero saber isso. Portanto, é meu direito obrigá-la a gastar seu tempo providenciando uma resposta”. É um tipo perigoso de presunção de direito porque por trás do elogio absolutamente formal (e errado) há o pressuposto de que é minha obrigação trabalhar para o detentor do tal direito.

*correção: eu NÃO sou uma das melhores powerlifters brasileiras. Tenho estado no topo do ranking mundial por anos e tenho resultados do alto nível mundial reais (não de mentirinha, como tanto brasileiro retornado de campeonatos internacionais vergonhosamente ostenta). Isso inclui um recorde “all time” e um champions of champions do RUM (por sinal, a mais alta Wilks de supino raw jamais alcançada na America Latina). Essa frase do autor da pergunta soa ligeiramente ofensiva. Me lembra um dos meus ex-maridos, que era uma vaca sagrada em seu campo de pesquisa, 29 anos mais velho que eu, que curtia humilhar suas mulheres (não fui nem a primeira, nem a última da lista). Um dia ele me disse: “das minhas mulheres, você é a mais inteligente” (nessa incrível população composta das ex-mulheres e ex-namoradas da dita celebridade).

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