Pensando com o cérebro dos mortos sobre a Lei de Incentivo ao Esporte

Mais uma ilustração da cegueira autoritária e fascista da esquerda oficial – posicionando-se quanto à Lei do Incentivo ao Esporte

 

Acabo de ler um documento divulgado pela Executiva Nacional de Estudantes de Educação Física, uma versão EF da mediocridade intelectual do movimento estudantil monopolizado pelos grupelhos da ultra-esquerda desde sempre. Diz o documento (mal escrito e mal articulado, como sempre): “O que nos parece é que essa lei avança numa concepção de estado minimizado, que retira do controle e da administração pública elementos importantes. Pior, transforma o patrocinador num benfeitor e recompensa-o com a isenção de impostos.” Lendo o pequeno documento em questão, entende-se que os luminares que o redigiram defendem que não haja nenhuma contribuição da iniciativa privada no esporte e ainda por cima questionam qualquer incentivo ao esporte de rendimento. Ora, nem sei por onde começar a demolir raciocínio tão anacrônico, autoritário e contrário aos interesses da população.

Em primeiro lugar, em que raio de sociedade essas criaturas pensam que vivem que dispensa a contribuição e (bem pior) a responsabilidade social das empresas?? Esta é uma sociedade de mercado e interessa, sim, ao desenvolvimento nacional, uma economia onde estas sejam incentivadas a práticas com o maior retorno social possível. Leis sensatas (o que não necessariamente é o caso das aprovadas) que contemplam o incentivo à inovação tecnológica (que estimularia o desenvolvimento de uma indústria mais moderna e competitiva), a parceria criativa com o Estado nos serviços públicos (saúde, educação e segurança), bem como o reivindicadíssimo apoio à cultura e ao esporte (que implicam obviamente em incentivo fiscal, qualquer um sabe disso) fazem parte de uma luta pela modernização na qual todos os seres minimamente críticos do planeta já se engajaram alguma vez na vida (antes da desilusão completa que alguns sofreram). Eu até sei qual o modelo assustador de sociedade que quem advoga a exclusão da iniciativa privada dessas funções tem em mente, mas deixo ao leitor concluir o que significa lutar CONTRA a MODERNIZAÇÃO em tempos de globalização e de perigosos dilemas quanto a abismos digitais e culturais que países emergentes como o nosso vivem.

Em segundo lugar, é triste verificar que o movimento estudantil consegue impedir que estudantes de economia tenham a menor noção do que é Economia, estudantes de biologia sequer entendam as bases dos conceitos evolutivos e estudantes de Educação Física entendam o papel social do esporte de rendimento. Meu deus do céu: dizer que incentivar o esporte de rendimento não estimula a inclusão social significa que estes estudantes deveriam ser jubilados de seus cursos! É o mesmo que dizer que a ciência de ponta ou a arte erudita não devem ser apoiadas – não são para o povo! Para quem então? Para a elite, que conta com o mecenato familiar (vulgo “paitrocínio”)? Ora, paciência tem limite.

Todos sabem que é precisamente às populações secularmente excluídas da cultura de “alto rendimento” (arte erudita, ciência de ponta e esporte de rendimento) que devemos orientar nossos esforços de inclusão. Assim são os programas de levar música erudita aos bairros pobres, ballet clássico às periferias sujas para crianças sem acesso à nada, informação científica e apoio à “scientific literacy” (alfabetiazação científica) para os milhões, e não para a meia dúzia que tem acesso às “prep schools” (aqui no Brasil, a meia dúzia de escolas caríssimas que prepara a nova geração da elite simbólica que domina o país desde que ele existe).

O esporte de rendimento, competitivo, além disso, tem funções adicionais que a mediocridade intelectual e falta de formação dos estalinistas de plantão impedem ver: ele constrói redes sociais de apoio em contextos onde a juventude é particularmente vulnerável a riscos de vitimização por criminalidade e outras conseqüências nefastas da exclusão social; ele introduz elementos de estilo de vida saudável não apenas entre os atletas engajados, mas com efeito multiplicativo sobre as comunidades envolvidas; ele estimula a educação continuada onde é conhecido o êxodo escolar e fracasso acadêmico; ele melhora a auto-estima de segmentos sociais massacrados pelos elementos ideológicos da cultura dominante, especialmente entre jovens, mulheres e negros.

Isso que escrevo aqui não é mais uma masturbação intelectual entre tantas outras nas quais se engajam tanto os militantes profissionais como tantos acadêmicos que sujam o nome de sua profissão, que deveria missionariamente servir ao propósito de democratizar o conhecimento. Digo tudo isso da posição de quem luta pelo sucesso de um programa social ligado ao esporte de rendimento numa favela de grande porte na maior cidade do país, a favela de Paraisópolis, onde conduzimos o Programa de Powerlifting de Paraisópolis. Nossa expectativa não é simplesmente fazer meia dúzia de campeões mundiais (porque isso, amigos, FAREMOS COM CERTEZA). Nossa missão é interferir positivamente na vida de uma comunidade de 80 mil habitantes excluídos no coração mais afluente da maior metrópole brasileira, democratizando conhecimento, criando sistemas de apoio e solidariedade, onde o Estado não se incomoda com essas funções.

E então? Deveríamos abandonar nossos esforços, nos inscrever em algum grupelho sectário e lutar para que o Estado vá lá promover “caminhadas saudáveis” nas ruas ou qualquer outra bobagem própria de quem não entende nada de corpo, de saúde, de nutrição e de pobreza?

Não para nós. Já nos cansamos desse esquema furado, demagógico, populista e cruel.

 

Marilia Coutinho (Ph.D. sim, mas sem nenhum orgulho especial)

Coordenadora técnica do Programa de Powerlifting de Paraisópolis

www.paraisopolispower.org

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