O preço da liberdade e o preço da falta dela

Um tempo atrás eu defendi que deveria ser obrigatório o ensino de estatística e lógica na escola. Agora começo a pensar que conceitos introdutórios de economia também deveriam ser.

Peguemos as seguintes questões: drogas recreativas, encarceramento e doping esportivo

Drogas recreativas: não importa o que você ache delas e nem o quão moralista ou absolutamente clínica seja sua rejeição a elas. Existem fatos que não mudam: o primeiro, que a guerra às drogas mobiliza um imenso aparato no Estado que custa bilhões e vai incidir no maldito imposto, que será dividido de tal forma que o mais provável é que você, que vocifera contra elas, é quem vai arcar com o maior peso do custo. A guerra foi perdida e os números não mentem. O outro fato é que liberadas ou não, as drogas serão consumidas. Há alguns dados controversos que mostram que a proibição inclusive aumenta o consumo de qualquer coisa. Então sua preocupação com os seus filhos não pode entrar na equação: isso você tem que resolver com papo aberto em casa. Aproveite e aprenda um pouco de fisiologia, porque moralismo é receita certa para que eles queiram mais ainda consumir.

Qual a saída? A óbvia: legalização. Mas legalização de cima a baixo – não pela metade. Por que eu digo isso? Porque setores totalitários que se intitulam de esquerda (e eu não poderia ligar menos, já que a partição espacial não me diz nada) defendem “liberdade para o consumo e anistia para os traficantes presos”. Legal, né? Não mexe em nada na estrutura do crime organizado, que fica tranquilo e continua financiando inclusive essa galera.

Então, não, certo? Tem que legalizar inclusive o comercio e industrialização. A descapitalização que isso pode ocasionar no crime organizado é incalculável. Quem quer isso? Aparentemente ninguém.

Encarceramento. Honestamente, menos de 10% de quem está encarcerado justifica encarceramento. Talvez menos. Punição (“pena”) é uma coisa e encarceramento outra. Convencionou-se considerar encarceramento a forma default de punição para o crime. Só que isso custa caro, e muito caro. Por que não aplicar penas alternativas? Digamos, por exemplo, que o indivíduo, aos sábados, cumpra uma diária de serviço público em obras do governo, por exemplo? Porque o sindicato dos trabalhadores do setor iria chiar. O país que se dane. Você e eu, que nos danemos. E no toma lá, dá cá, se perpetua esse sistema irracional de encarcerar gente que poderia estar produzindo e não onerando o Estado, que no fim é onerar a todos nós.

A porcaria do doping esportivo. Nem vou entrar no mérito da questão (como não entrei nas anteriores). São bilhões de dólares mobilizados para fazer uma imposição desnecessária e improdutiva, que resulta apenas em trapaça cara. O preço da propina para o doping negativo sobe. E, caro leitor, você, de novo, paga, porque quem mais gasta com isso é o Comitê Olímpico Brasileiro, sustentado por… você.

Não importa que você ache que bandido bom é bandido morto. Isso é pueril. Defina bandido. Se você pensa num chefão do tráfico ou um psicopata, seguramente eles precisam ser encarcerados num regime ultra-rigoroso. Não para puni-los, mas porque eles são perigosos. Mas o resto? Não importa o que você ache deles: eles não oferecem grande perigo. Eu prefiro que eles não sejam caros. E você?

Alguns vão argumentar: “mas e a heroína e o crack? São muito perigosos!”. Tudo é muito perigoso. Álcool é muito perigoso. E proibir não diminui o consumo. Mas parar de proibir libera recursos para educação e reabilitação – e outra parte para o nosso bolso.

Infelizmente, isso não está na agenda de ninguém. E pouca gente tem a racionalidade e fundamentos de economia para tomar a decisão informada.

Ficamos, mais uma vez, nós, reféns do mau-caratismo de uns e da emoção deslocada de outros.

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