Não mentirás

Homem, 50 anos, porcentagem de gordura corporal 28%, sedentário, IMC=33,1, glicemia de jejum 247ug/ml, glicosuria e proteinúria relevantes, pressão 14:8, glaucoma. Prescrição: glibeclamida e metformina, dieta “balanceada”, proibição de doces e recomendação de exercício moderado. Prognóstico: isso deve controlar a condição (diabetes) e recuperar a saúde do paciente. MENTIRA!

Mulher, 30 anos, porcentagem de gordura corporal 44%, IMC= 39; pressão elevada. Prescrição: dieta “balanceada”, controle de doces e frituras, caminhadas diárias. Prognóstico: isso deve levar à perda de peso e recuperação dos indicadores de saúde. MENTIRA!

O discurso da moderação e do equilíbrio, diante de condições crônicas avançadas, é mais do que mentiroso – é irresponsável e pode ser assassino. No caso do diabético acima, como de tantos outros que conheci, é o caminho certo para a degeneração rápida de sua saúde, como comentei em post anterior. No caso da moça obesa, é uma sonegação da informação real da qual ela necessita para se apropriar de seu processo de recuperação, pois não é verdade que medidas suaves podem controlar uma condição de perversão tão profunda do funcionamento metabólico de seu organismo. Em ambos os casos, as mudanças nos hábitos alimentares necessárias são radicais e profundas. Tão radicais quanto às que se requer de um dependente de substâncias que se vê diante da opção de passar a consumir ZERO gramas da substância ou continuar a consumi-la e morrer. Tudo ou nada. A diferença entre viver e morrer.

Caminhada suave, para um diabético, na melhor das hipóteses é inócua, na pior, aumenta o risco do pé diabético e portanto da lesão e perda do membro. Caminhada suave, para a obesa, provocará enfado, seguido de frustração, seguido de desespero, e tudo isso acompanhado por fenômenos endócrinos e neuroquímicos que só agravarão sua condição. Quanto antes ela souber que nada de “moderado” ou “light” vai resolver sua situação, melhor.

Essa mesma medicina que mente pela sonegação de informação radical, mente cruelmente ao absolutizar probabilidades catastróficas.

Homem, atleta, várias vezes campeão brasileiro de levantamento básico, 28 anos, rompimento do músculo peitoral. Diagnóstico: “lesão com seqüela grave, você nunca mais poderá praticar seu esporte”. MENTIRA!!! Eu conheço o atleta, presenciei sua volta ao tablado, sua conquista de mais um título brasileiro e quebra de novo Record.

Mulher, 14 anos, bi-campeã paulista de esgrima, às vésperas do campeonato brasileiro, inchaço e dor no músculo flexor do polegar direito, mancha de aparência duvidosa em radiografia da mão. Diagnóstico: lesão de origem indefinida – a atleta NUNCA mais poderá praticar o esporte. MENTIRA!!! A atleta era eu, me recuperei e ganhei o campeonato brasileiro.

Mulher, 43 anos, portadora de desordem bi-polar, agravamento da doença entre os 34 e 41 anos com aumento de medicação psicotrópica; interrupção voluntária do tratamento aos 41, com redução significativa do número de surtos; um surto subsequente, quase letal. Diagnóstico: sem tratamento medicamentoso, a probabilidade de sobreviver a novos surtos é baixa e a tendência é o agravamento da desordem.

Essa mulher sou eu. Aposto na mentira.

 

Marilia

 

BodyStuff

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