Levantamento olímpico: vamos aprender a comemorar

Na linha “vamos desaprender o errado”, em geral ensinado pela mídia sobre o molde do futebol profissional, vamos aprender a comemorar no esporte? É assim: esporte é um jogo, porém também é uma expressão de excelência técnica humana. O que importa em atividades onde conta “fazer direito” ou “fazer bem feito” (meritocráticas) é a performance. A performance, em geral, é mensurável ou de alguma maneira aferível. Assim, alguém corre uma mesma distância em 10 segundos, o outro em 10,01 e o outro em 10,03 segundos. Ganhou o primeiro, o mais rápido. Este primeiro pode ter corrido, em eventos anteriores, velocidades de 9,5 e 9,2 segundos. Para ele, houve um decréscimo de performance. O sujeito que fez 10,03 segundos, por sua vez, pode ter tido sua melhor marca da vida.

Estes são os três primeiros. Convencionou-se premiar os três primeiros lugares. Por que? Por nenhum motivo especial! Poderiam ser os dois ou quatro primeiros. Isso se chama ARBÍTRIO, ou seja: escolha. Não é a “natureza” que determina que 3 é um número intrinsecamente premiável.

Então quais são os melhores (de qualquer unidade territorial ou populacional que se escolha avaliar)? Tudo depende de como se avalia, do tamanho da população em questão, da unidade de tempo, etc.

Vamos observar o caso do levantamento de peso. Jaqueline Ferreira ficou em 8º lugar, sua melhor colocação e marca da vida e o melhor resultado feminino de todos os tempos do Brasil. Vejamos os itens relativos: foi a melhor para si mesma (“recorde pessoal”); foi a melhor marca do país no esporte. Mas não é um dos três primeiros. Considerando três um número aleatório, por que mesmo não celebraríamos a 8ª colocação de Jaqueline como uma vitória? Em termos absolutos, “vitória” seria apenas o primeiro lugar. Mas num sistema classificatório contínuo, especialmente em esportes individuais, isso não é sequer lógico. Acho que esgotamos o argumento.

Vejamos Fernando Reis. Fernando ficou em quarto lugar em seu grupo e perdeu, assim, a chance de disputar um dos seis primeiros lugares. Ao lesionar-se, fez a sábia escolha de não continuar. Lesionado, totalizou 400kg, obtendo a 12ª colocação. Esta colocação só foi conseguida antes dele em 1952 por Waldemar Viana da Silveira, em Helsinque. Foi, portanto, a melhor colocação do Brasil nos últimos 60 anos, não sendo menor do que a anterior. Continuamos na melhor colocação do Brasil no LPO masculino.

Será que agora dá para comemorar sem “mas” ou “por que”s?

Um pouco de coerência, lógica e entendimento da natureza do esporte não fazem mal a ninguém.

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