Formolatria: por que eu fico inventando palavras e expressões

Por que eu fico inventando termos e expressões? Por que chamar de alienação corporal uma condição que já era confortavelmente chamada de “separação mente-corpo”? Por que inventar essa, agora, da formolatria?

Em primeiro lugar, porque a língua é dinâmica. Nenhum idioma é um acervo de vocábulos de onde o usuário recolhe os que vai usar conforme o melhor encaixe nos significados que busca. Língua é um sistema simbólico dinâmico e sempre em construção. As linguagens técnicas, então, estão sempre em rápida transformação: a necessidade de forjar novos conceitos cresce com a rapidez da construção dos saberes.

Sobre alienação corporal eu já falei e publiquei bastante.

Já formolatria apareceu numa entrevista que dei à Jeanne Caligari um tempo atrás. Me incomodava o termo “corpolatria”. Em geral, vinha nos textos de quem criticava não apenas a abordagem rígida a estética corporal, mas a prática de atividades físicas e dieta cujo objetivo era cuidar do corpo. Eu sentia que aí tinha um problema muito sério, que em inglês se expressa lindamente na frase “throw the baby out with the bath water”. Jogar fora o bebê junto com a água do banho. Horrível, não? Dar banho num bebê, que é a coisa mais importante que se tem, e jogar fora a água do banho e o bebê junto.

Eu sentia que era isso: em vez de condenar o pernicioso e apontar o construtivo, essa forma de crítica rejeitava tudo e voltava à alienação corporal, numa profunda negação do corpo.

O pernicioso na indústria da beleza, que inclui desde a moda, a medicina estética até o fitness, é a entronização de uma forma ideal. Esse tipo ideal de forma para o corpo humano sintetiza diversas formas de opressão (de gênero, de classe) e veicula interesses de lucro das várias indústrias envolvidas. Além disso, tal forma desumanizada é um instrumento para obstruir o processo de reapropriação da corporalidade que as pessoas tão penosamente têm pela frente para conquistar um mínimo de autonomia e saúde.

O problema é essa forma, esse conjunto de dimensões, cores e medidas que a indústria elegeu como beleza e que impõe de maneira tão eficiente que é plenamente interiorizada por quase todos. Essa forma que não abriga o vivo e o humano.

É sobre a entronização dessa forma que eu falei na palestra virtual para os estudantes de Educação Física do Rio de Janeiro.

Mais sobre isso, mais tarde.

 

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A vida é pentavalente: arranco, arremesso, agachamento, supino e levantamento terra. Life is a five valence unit: the snatch, the clean and jerk, the squat, the bench press and the deadlift.

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