Diego Figueroa, 27 anos, 79kg, educador físico, mestre em fisiologia, doutorando da Universidade de São Paulo na área de cardiologia. Treina powerlifting há 10 meses, e em novembro de 2012 foi vice-campeão mundial do World Powerlifting Congress, uma das duas maiores federações da modalidade e aquela onde as marcas mais elevadas são feitas. Marcas: agachamento (raw, sem faixa): 205kg; supino: 137,5kg; levantamento terra: 227,5kg.
Este foi o primeiro campeonato do Diego, menos de um ano depois de começar a treinar powerlifting. No Brasil, nenhum atleta próximo ao peso corporal dele conseguiu resultados semelhantes em menos de alguns anos. No mundo, idem. Ele é claramente um fenômeno da modalidade.
Qual o motivo? Boa pergunta. Não, não é só genética. É evidente que a genética conta: Diego é metabolicamente “diferente”, as proporções dele são privilegiadas e ele tem uma capacidade fora da mediana de desenvolver força e potência. Isso está sendo estudado. No entanto, insisto na minha hipótese de que o que mais conta é a mente dele. Ele faz parte da geração de atletas intelectualmente privilegiados que potencializam a níveis ainda desconhecidos suas características fisiológicas atípicas.
Infelizmente, o fato dele estar fora da curva para certas características que o fazem claramente mais apto e mais competente como atleta de força provocam reações contraditórias no público. Admirar o extraordinário é benigno e leva à solidariedade e ao apoio. Invejar o excepcional é maligno e leva à sabotagem e a torcida contra.
Eu repito o que disse no artigo que escrevi para apoiar a Mayra: “Não tenha medo do que é extraordinário e excepcional. Ele existe para que se construa o edifício civilizatório. Existe, não para rebaixar o que não é excepcional, mas para apontar o caminho do extraordinário em todo ser humano.”
Sim, o Diego é meu amigo e meu parceiro. Sim, eu estou pessoalmente muito brava com a percepção que tenho de que ele está sendo sacrificado por causa dessa atitude de rebanho de “vamos sentar e assistir os extraordinários se estreparem” (ah, podem esperar, teremos muitos artigos sobre isso).
Quando eu ouvi dele que, exceto por um milagre, a participação dele no RPS International Open não seria possível, minha reação foi primeiro de tristeza e depois de muita raiva. Temos que usar as midias sociais como ferramenta de marketing para a campanha de crowdfunding. Cada vez que eu via meus supostos “admiradores” compartilhando idiotisses para chamar atenção e, mesmo que individualmente alertados, simplesmente virando as costas ao projeto, não tive como não ter muito ressentimento.
Eu vi o Diego levantar peso, acompanhei o treino dele agora, o esforço da dieta, tenho competência técnica para saber que ele está muito acima da imensa maioria dos atletas que estão no powerlifting há anos e foi difícil engolir o que parecia ser uma derrota.
Não será: tenho fé que nem todo mundo é vítima desse pensamento mesquinho e pequeno de que suprimir o extraordinário reduz o desconforto com a própria mediocridade.
Tenho certeza de que uns poucos entendem que reclamar da falta de apoio do governo e empresas sem mover uma palha para mudar a situação é no mínimo hipocrisia e no máximo falta de pensamento crítico: o espaço social para qualquer coisa que mereça o olhar das instituições públicas e corporações tem que ser cavado a duras penas por CADA UM E TODOS NÓS.
É de vocês que espero o apoio final para que Diego viage a Ohio, e depois a Inglaterra e finalmente a Las Vegas, no final do ano, confirmando minha tese de que estamos diante de um talento excepcional.