Desde que eu comecei a dar cursos em programas de pós-graduação em Educação Física, em Treinamento desportivo, em Treinamento de Força, em Musculação e até em outros mais estranhos, nesta nova “encarnação acadêmica” (eu tive uma outra encarnação acadêmica), tive todo tipo de convite. Eles envolveram aulas pontuais em programas de especialização (também conhecidos como pós-graduação lato sensu), pequenos cursos de duas, quatro ou oito horas, palestras e apresentações.
Depois eles envolveram “módulos”, onde eu compunha um conjunto coerente de temas relacionados à minha abordagem.
Mas eu nunca tive o meu programa completo. Uma das conseqüências disso é que toda vez eu acabava tendo que retomar temas semelhantes. Em uma das universidades, me atribuíram dois cursos cujo conteúdo, na prática, era igual.
Há uns três anos, alguns amigos, profissionais da área do treinamento, vêm insistindo que está na hora de eu ter o meu programa. Quase tudo que eu falo e faço está integrado, de uma maneira ou de outra.
No começo não levei isso muito em sério. Depois do meu primeiro livro, passou a ser uma proposta mais concreta. Mais tarde, diante da discrepância entre o que eu propunha e colegas no mesmo programa propunham, comecei a me dar conta de que eu poderia estar fazendo mais mal do que bem aos alunos. Afinal, chego eu lá dizendo que não se treina músculo isolado, que isso é “treino de açougue”, para que em seguida o aluno tenha aula sobre como melhor fazer um split de peito/tríceps, braço/costas e pernas? É de dar nó na cabeça de qualquer um.
Eu discorro sobre alienação corporal – vem o outro professor e fala na busca pela forma “correta”.
Não dá certo. Saem eles, os alunos, confusos e eu frustrada.
A outra frustração, sem dúvida, é a indigna remuneração das universidades privadas. A maioria dos programas de especialização resultam num título que dá ao aluno uma vantagem duvidosa no mercado e praticamente nenhum conteúdo em termos de ganhos em habilidade, em aplicação em seu dia-a-dia profissional ou mesmo em sua erudição. A comparação entre o custo dos mesmos e a remuneração dos professores é constrangedora. Considerando que, além disso, eu tenho títulos avançados (mestrado, doutorado e pós-doc), não me fazia mais sentido sair da minha casa, freqüentemente para ir a outra cidade, dar aula por uma remuneração de R$60,00/hora aula. Essas eu descartei. As melhores pagam, digamos, uns R$100-120,00/hora. Também não me convém. Faço consultorias em paz, em casa, por muito mais que isso.
Só que eu gosto de ensinar. Não só gosto, mas acho que é minha missão. Eu tenho o que passar para frente antes de ir embora deste planeta. E por isso eu tomei essa decisão, mais uma vez considerada porra-louca por tantos: eu tenho o meu programa. Dividi os temas que o pessoal mais gosta de perguntar e ler e falo sobre eles toda quarta-feira no espaço da Mônica. Por que lá? Porque é perto da minha casa, porque eu gosto da Mônica e porque me sinto bem lá. Mais um motivo? Porque estou vindo da Crossfit no dia e é um horário bom para mim. Mais um motivo? Porque eu quero!
Não são os cinquentinha (R$50,00) que as pessoas pagam para assistir 2,5h de aula que vão mudar nem a minha vida, nem a vida da Mônica, financeiramente. Mas estão construindo a minha mensagem. O que eu tenho para deixar para o mundo.
Tenha um aluno ou 30, eu dou aula do mesmo jeito. Toda quarta-feira. Religiosamente. Faça chuva ou faça sol.
Mas tem um problema: eu não repito tema. São 23 temas. Provavelmente vou acrescentar mais alguns. Com estes 23 temas, seriam 6 meses se eu pudesse dar aula toda quarta, mas não posso: tenho competições e saio do país algumas vezes. A tendência é que nos finais de ano, por uma deficiência neurológica minha de termorregulação para o calor, eu saia do país.
Isso significa que estes temas são o que tem para o ano.
O pessoal que teve o seminário sobre força e movimento curtiu muito. Você não foi? Puxa, que pena. Só no ano que vem, lá por junho. E o de periodização? Aquele papo de não existir periodização linear e todas as histórias que eu contei sobre a periodização conjugando estímulos que supercompensam com tempos distintos? Que não estão em publicação nenhuma? Puxa, que pena. Só o ano que vem.
Será que eu topo falar sobre estes temas em outro lugar, nestes convites que eu recebo? Sei lá… acho que não. Pensei bem, este aí é o meu programa. É para os MEUS alunos. É para quem quiser vir até aqui me ouvir falar.
Algo próximo vai acontecer nos meus cursos virtuais. Terá suas vantagens mas certamente suas desvantagens. Não vou conseguir administrar 23 cursos virtuais nem se eu conseguisse me clonar quatro vezes.
Assim, acho importante esclarecer o que eu quero e o que realmente vai acontecer com este meu programa. Ele é meu: não me submeto mais a universidade alguma, a programa de outro instituto, a nada. Eu estou respeitando uma coisa que pouca gente respeita: a vontade daqueles que me seguem há anos e que expressam seus anseios, anseios estes que eu traduzi com minha criatividade e meus muitos anos de erudição transdisciplinar.
E isso, gente… não estou mais com vontade de vender para outros. É só meu, e só para vocês.
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A vida é pentavalente: arranco, arremesso, agachamento, supino e levantamento terra. Life is a five valence unit: the snatch, the clean and jerk, the squat, the bench press and the deadlift.