Altura do agachamento – sessão P&R

Dia 17 de outubro, Tiago Duarte me enviou uma dúvida sobre altura do agachamento:

“Olá Marilia, estou com uma pequena dúvida no agachamento. É na primeira fase, até que ponto devo descer. Meu agachamento realmente é completo, realizo posicionando o quadril abaixo da linha do joelho. Mas reparei que em vários vídeos de competição eles não descem tanto, alinham quadril com joelho. Se puder me ajudar? Obrigado!”

É uma excelente pergunta. Existem dois pontos importantes para respondê-la. O primeiro ponto diz respeito à profundidade do agachamento e as características do movimento. O agachamento estável é aquele em que se mantém a coluna neutra em todas as fases do movimento. É comum, com cargas mais baixas, observar uma certa protrusão do quadril com a perda do controle da lombar. Essa “lombar frouxa” permite que o movimento seja bem sucedido até uma certa carga. É fácil entender isso pensando num agachamento sem carga:

deep-squat-two-angles

A partir de cargas mais altas, no entanto, ou o praticante acerta a lombar, mantendo-a firme até embaixo e depois para cima, ou ele perde o movimento. No agachamento com a barra nas costas (o levantamento “agachamento” ou agachamento do powerlifting), a neutralidade da coluna permite agachamentos menos profundos do que os agachamentos frontal e overhead:

 

images

Quanto maior for a carga, maior é o esforço empregado para manter esta lombar firme e maior o risco de descer mais fundo e não conseguir mantê-la. Assim, em situações competitivas, o levantador tentará obedecer estritamente a regra, que varia pouco em relação ao seguinte:

“… o levantador deve dobrar os joelhos e abaixar seu corpo até que a superfície das pernas na articulação do quadril esteja abaixo do topo dos joelhos”

 

SquatDepth

Entramos agora no segundo ponto, que é o agachamento competitivo e seu julgamento. O agachamento é o levantamento mais difícil para o referee. O motivo é exatamente a “grey area” que existe entre um agachamento absolutamente fora da profundidade estipulada pela regra e o agachamento convincentemente profundo. Diferentes organizações adotarão posturas diferentes em relação a esta zona cinza. Algumas adotam posturas mais “black and white” e tudo que for cinza é preto, ou seja, luz vermelha (inválido). Outras organizações têm menos consenso quanto a isso e diferentes juizes se posicionarão de maneira distinta.

squata gray area

convincing

Só mesmo estando na cadeira de um árbitro lateral para compreender a complexidade do julgamento de altura. Uma vez emitido o julgamento, vale a luz do juiz.

A outra questão relacionada a esta é a dificuldade em julgar um levantamento por video. Há algum tempo eu publiquei um artigo sobre os “youtube referees”, criticando-os duramente. No meu entender de árbitra internacional certificada, ninguém exceto as três pessoas sentadas nas cadeiras de árbitro podem emitir julgamentos. Um vídeo jamais consegue retratar a realidade de um levantamento.

Muitos vídeos, além disso, são feitos de frente. Há um motivo pelo qual existem três árbitros no powerlifting: o árbitro central vê coisas diferentes do que os laterais (e cada um deles entre si). O árbitro central dificilmente tem uma boa perspectiva quanto à profundidade do agachamento.
A minha sugestão é que sempre se agache o mais fundo possível. Deve ser o suficiente para satisfazer o mais rigoroso dos juízes. Se não é possível descer mais que isso, quer dizer que o levantador ainda não está preparado para aquela carga, ou pelo menos não está naquele dia.

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