1. Ter confiado em alguém que tinha intenções maliciosas em relação você e, de fato, cometeu ou efetivamente tentou cometer atos danosos em relação a você não atribui a você nenhuma qualidade negativa. Você não é mais burro, menos interessante, menos digno de respeito ou teve algum tipo de quantificador cósmico do seu valor como pessoa reduzido. Em geral, não diz muita coisa sobre você.
Ser enganado, traído, ludibriado, usado e em geral manipulado não quer dizer que você seja um otário, uma pessoa burra ou irrecuperavelmente sem habilidades sociais. Pode ser difícil de aceitar, mas numa sociedade com a complexa combinação de valores e recompensas como a nossa, é “racional” ser manipulador. Pense na vida política brasileira, por exemplo. O manipulador tem ganhos e você é só uma presa. Você pode aprender a se defender até certo ponto, mas sempre tem um mais esperto.
2. Ter sido rejeitado no amor ou na amizade não diz nada sobre o seu valor. Também não diz nada sobre o valor da pessoa. Simplesmente quer dizer que a relação não fazia sentido naquele contexto (ou nenhum contexto)
A ideia de que todo mundo tem seu par é uma das mentiras mais perversas já inventadas: só é possível “parear” (fazer parceria) com alguém se você estiver inteiro. Todo mundo nasce e cresce completo. A incompletude é uma ideia criada para produzir um tipo de estrutura de casal e família. Assim, afinidades e incompatibilidades são produto de muitas variáveis de imensa complexidade, e não da sua capacidade ou incapacidade em “completar” o outro. O outro não querer ser seu par ou amigo não tem muito a ver com você: tem a ver com ele (ou ela).
3. Não ter sido fisicamente apreciado por alguém do sexo com o qual você se relaciona sexualmente não significa nada em relação nem à sua beleza, nem à sua atratividade sexual.
Atração sexual é em parte determinada, sim, pelo marketing da indústria da beleza. O resto dos componentes que determina isso está escondido lá nas profundezas do inconsciente de cada um. Todo mundo desvia do ideal de beleza da indústria: uns mais, outros menos. Se você não foi apreciado, você pode (ou não) ter desviado em algum aspecto que o “outro” valoriza ou simplesmente aquela coisa das profundezas do inconsciente dele ou dela não clicam com você. Finalmente, seus feromonios podem ter sido sentidos pelo outro como um par geneticamente menos adequado ao genoma dele ou dela – tem essa também, e é 100% individual!
4. Ter investido recursos num projeto que não deu certo não significa que você é um fracasso. Significa que você investiu recursos num projeto que não deu certo, ponto final.
Sim, é possível minimizar as chances de um projeto fracassar. Zerar, impossível. Além disso, a maior taxa de recompensa de um projeto em geral está associada a seu risco. Não é preciso dizer muito mais, né?
5. Não vencer uma prova concorrencial supostamente baseada em mérito raramente quer dizer que você tinha menos mérito que o ganhador: mérito é uma coisa muito mais socialmente negociada do que você pensa e isso não é bom, nem mal: é parte da estrutura social
Não quer dizer que não exista mérito: quer dizer que não apenas que sua definição é negociada e renegociada o tempo todo como existem, sim, as “cartas marcadas”. Em geral, com mais freqüência do que a recompensa por mérito.
6. Não entender um conflito que afasta violentamente as pessoas não quer dizer que você seja burro ou maluco. Quase sempre quer dizer que não é intenção dos participantes que os motivos sejam conhecidos. A melhor atitude é fazer esforços genuínos para desistir de entender
Conflitos sérios em geral envolvem interesses complicados, muitos dos quais podem implicar segredos, ações escusas e até ilegais. Houve uma briga, você não entendeu, pediu explicações e não obteve: grandes chances de ter “coisa estranha” por baixo. Talvez seja melhor você nem saber.
7. Acusações moralistas são elogios
“Ela é uma vaca, uma puta, dá para todo mundo”. “Ele é um viado”. Estas duas afirmações denotam um acusador medíocre até o último fio de cabelo e adepto de valores absolutamente anacrônicos. Se você é “ela”, parabéns: você provavelmente é uma mulher interessante e independente. Se você é “ele”, parabéns: você provavelmente é um homem civilizado, maduro e sensível.
8. Pedir desculpas e tentar reparar algo que você percebe com o um dano ao outro é legal. Se o outro não aceitar, não é problema seu
Tudo tem limite. Sentir remorso por algo que você fez na raiva para machucar é positivo: quer dizer reconhecer o erro e tentar repará-lo. Mas só 50% dependem de você.
9. Ter dificuldade em superar a dor de uma perda não faz de você um fraco. Conseguir superá-la merece celebração
Existe uma ideia esquisitíssima de que dor de cotovelo é sinal de fraqueza. Ninguém acusaria um viúvo ou viúva de ser fraco por entrar em depressão após a morte do companheiro. No entanto, são ambos perdas. Para o nosso cérebro, faz pouca diferença. Existe um luto que pode demorar mais ou menos, dependendo de inúmeros fatores. Às vezes é mais difícil elaborar o luto da perda de um vivo.
10. Ataques políticos e ideológicos não são pessoais. Não dizem nada sobre você. Uma boa parte dos ataques que parece pessoal, na verdade é político
Por “político” quero dizer ligado a interesses institucionais, como o trabalho, a escola, o esporte, os grupos sociais, e não apenas a política stricto sensu. Política no sentido de “jogo de poder”. Se você pensar bem, boa parte dos ataques a você foi motivada por interesses que envolvem jogos de poder.
11. Você ser educado e hospitaleiro com o(a) conjuge do seu amigo(a) é bacana. Você aceitar a imposição deste conjuge na sua intimidade é se deixar violentar e não tem como lidar bem com isso. Não deixe isso acontecer. Nunca faça isso com os outros. Deixe claro que você convidou o amigo e não seu cônjuge quando este for o caso
Você casou (ou grudou, não importa), ama seu cônjuge, isso é legal. Isso não quer dizer que você possa levá-lo à casa dos seus amigos sem que eles tenham sido convidados ou que isso tenha sido explicitado. Seu amigo em geral não falará nada, mas como tempo isso acumula ressentimento e pode afastar você do seu amigo. É assim que as pessoas perdem os amigos: impondo o cônjuge aos outros. Entenda que quem escolheu o cônjuge foi você e não seus amigos e sua família. A coisa mais comum do mundo é um relacionamento acabar e a pessoa se ver “sem amigos”: claro! Ela abriu mão de ter amigos próprios, enfiando o cônjuge em tudo ou até deixando de lado os amigos em função do cônjuge.
Leitura interessante para o tópico: Games People Play: The Psychology of Human Relationships