A resposta que tive que dar este sábado não é das mais fáceis. É uma mensagem dura. Por outro lado, é bastante óbvia: não apenas aqui, mas também em seu centro difusor, os Estados Unidos, Powerlifting era associado, no imaginário público, a um segmento social de baixo nível educacional, ideologicamente conservador, à violência, ao machismo e a práticas econômicas ilícitas.
Nada se conhecia sobre o esporte mas todos já haviam visto imagens do estuprador ou assassino branco, racista, com a swastika tatuada no braço, em filmes americanos, fazendo um supino na prisão.
Eu ter voltado do Rio Grande do Sul o ano passado com lesões e trauma por uma agressão machista digna de romance do século XIX (com direito a fechar a “liberal urbana” num banheiro) não ajudou muito.
No Brasil, pessoas de boa índole tentaram desenvolver o esporte desde os anos 1960s. No entanto, a verdade é que ele nunca ganhou o coração das elites culturais (até mesmo porque as pessoas de boa índole não vinham dela).
Infelizmente, as “marcas de distinção”, os elementos simbólicos visuais dos atletas até pouco tempo eram coerentes com este estigma repugnante aos mais pensantes. Estes, cada vez mais abertos a pensar sua corporalidade, foram encontrando nas lutas e, agora, recentemente, na Crossfit, a tradução de seus anseios.
Minha experiência é que a minha versão do powerlifting – agora abraçada por um número cada vez maior de pessoas – tem permitido, para meu encanto, que legiões de pessoas reflexivas e propensas a pensar de maneira benigna o mundo comecem a enxergar o powerlifting como a nobre, linda, profunda e sofisticada arte que ele é.
No entanto, tem chão ainda para que ele se expanda, se é que um dia isso acontecerá. Não é minha preocupação. Sempre disse que não busco a popularização do esporte. Pelo contrário: já expliquei mais de uma vez que, por suas características intrínsecas ele jamais será popular exceto se deformado e prostituído, coisa que nós, puristas, jamais permitiremos.
Minha intenção quase egoísta é criar um ambiente hospitaleiro para indivíduos que não precisem se sentir em outro planeta para praticar seu belo esporte e nem praticar etnografia urbana para entender estranhos e assustadores sistemas de valores que não combinam com vida civilizada.
Acho que agora temos e estamos no bom caminho. Minha resposta para meus alunos que perguntam onde praticar powerlifting é sempre uma: “procure uma crossfit perto de você”. Onde mais?…