Sedentarismo e inatividade

Não consigo achar o artigo do American Journal of Public Health de 1999 onde os pesquisadores identificaram, numa amostra da população adulta da cidade de Genebra, 79.5% de homens e 87.2% de mulheres sedentários. A pesquisa existe. Pode até ser que isso corresponda a alguma realidade de inatividade muito acentuada, talvez por se tratar de sociedades industrializadas em países altamente urbanizados e com invernos prolongados. Mas de alguma forma me parece pouco provável que 90% das mulheres adultas seja inativa. Existem alguns instrumentos desenvolvidos pela epidemiologia para monitorar sedentarismo, sendo o principal deles o IPAQ International Physical Activity Questionnaire. Outros, comparados em estudos preocupados com a confiabilidade destas ferramentas, são: Metabolic Equivalence Estimates (METs); Active Australia (AA); Behavioural Risk Factor Surveillance System surveys (BRFSS). Alguns trabalhos indicam uma preocupação com os indicadores produzidos, já que dependem de avaliações subjetivas. Em todos eles, a responsabilidade pela avaliação do que seja atividade física intensa, moderada ou média é do entrevistado. Isso é metodologicamente complicado, já que obrigatoriamente requer que quem responde incorpore conceitos epidemiológicos e dê a eles significados dentro do seu contexto cultural e de vida. Existem outros problemas epidemiologicamente mais sérios ainda, como conceituar, na entrevista, atividade física intensa através respiração intensa, o que é um viés absurdo em favor de atividades cardio-vasculares. Isso tudo se complica muito mais se considerarmos os conceitos de “esforço percebido” e a mobilidade no laser, onde qualquer destes indicadores necessariamente falha (quem se lembra se ofegava ou não enquanto dançava ou brincava com os filhos?).

A humanidade é menos ou mais sendentária do que achamos, depende do critério. A humanidade é mais imóvel do que achamos. A humanidade sofre mais com a imobilidade do que imaginamos. Mas sofre diferente e muito além do sobre-peso que nos contentamos em medir.

 

Marilia

 

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