Competição e auto-conhecimento II

Não tem como ser indolor.

Lembro-me dessa frase dita por um homem que amei. No momento, eu mal conseguia respirar, tamanha a dor que sentia. Passada a dor, que é uma mini-morte, a gente emerge maior, como um inseto livre de sua casca velha e menor. Insetos são mágicos e nós também.

Competir é uma espécie de ecdise: larga-se uma casca menor e sai-se dela mole, vulnerável. Porém mais forte e maior. Não tem como ser indolor.

Não tem como ser indolor olhar-se num espelho mais real, menos esfumaçado. Com toda a impossibilidade epistemológica quanto ao conhecimento do real, a proximidade dele dói.

A competição testa várias das ficções que inventamos para nós mesmos. Somos mais reais embaixo de uma barra competitiva.

Diferente de uma barra de treino, de pura existência, prazer e exercício da identidade, a barra competitiva confirma. É ou não é? É, de validade coletiva, social, ou não é? Então é.

E não tem como ser indolor.

Pois a barra competitiva testa não apenas o estofo de que somos feitos, essa imagem turva que se reflete no espelho da performance, mas também as relações que temos com nossos pares. Aqueles a quem conferimos o direito e dever de avalizar os feitos que fazem de nós quem somos.

Nos obriga ao horror da confiança, esse ato tão aterrorizante e quase sempre catastrófico. Porém, durante alguns minutos, é preciso confiar cegamente. Alguém está atrás de você e ao seu lado para garantir sua vida caso você falhe. Alguém está à sua frente a ao seu lado para observar tudo aquilo que você não pode ver em você mesmo. Sem a menor escolha, você entrega a eles, os árbitros, o direito de lhe espelhar. Devolverão a você a imagem do que você nunca pode ver em si mesmo.

Competir é um ato perigoso, corajoso e transcendente.

Quem compete mesmo, se desnuda. Na nudez, é igual a todos os outros homens nus. Na vulnerabilidade, é humano. Na cegueira de si mesmo, é dependente.

E na transcendência, é um Super Homem.

Pena que quase ninguém veja que, de verdade, é isso que está acontecendo.

 

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A vida é pentavalente: arranco, arremesso, agachamento, supino e levantamento terra. Life is a five valence unit: the snatch, the clean and jerk, the squat, the bench press and the deadlift.

 

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